domingo, 1 de setembro de 2013

Autor deste Blog - Dr. Edmundo Torres Netto, mais conhecido como Doutor Torresinho.
Médico Cardiologista e Agropecuarista Proprietário da Estância Santa Anna em Dom Pedrito.
Criador de Cavalos Crioulos, gado Angus e ovinos .
Homossexualismo Há um conceito leigo de que o homossexualismo é uma opção individual. Entretanto, isto não me parece ser verdade. Há anos venho observando o comportamento homossexual e notei que há provavelmente uma influência genética, pois constatei familiares ascendentes e descendentes com este comportamento. Além disto, poderá haver um componente anatômico e/ou fisiológico para explicar o fenômeno. É importante também que nos animais existem várias espécies com comportamento homossexual, como cães, símios e até bovinos e ovinos. Assim não é apanágio do ser humano esta condição. Recentemente um trabalho publicado pelo professor francês De Vrais demonstrou que, na área pré-óptica do hipotálamo, os núcleos NYH2 e NYH3 eram menores nos homossexuais e nas mulheres, sendo que o próprio autor era homossexual. Este fato também foi verificado entre ovinos homossexuais, com núcleos pré-ópticos menores no hipotálamo. Desta forma, é bem provável que este substrato anatômico tenha representatividade na atividade fisiológica do comportamento sexual destes indivíduos, representados por cerca de 5 a 7 % dos homens e 3 a 4 % das mulheres em todo o mundo.

Ciúmes

Desenvolvi uma teoria sobre o ciúme, que me proponho a expor. Observo no convívio da estância onde moro e temos vários cães que eles demonstram ciúme entre si e com os seus donos. Quando um cão é afagado, o outro vem e tenta afastá-lo para ser ele o preferido. Este fato revela um sentimento de competição pela atenção e pelo carinho, fato este que ocorre, na minha observação, diariamente quando saio ao pátio e eles vem ao meu encontro. A observação deste fato interessante com os animais me levou a deduzir que, na realidade, o ciúme é um instinto, que transcende à racionalidade. É claro, no homem, acompanhado da razão, mas secundariamente, o que leva a atribuir que as atitudes motivadas pelos ciúmes são primordialmente instintivas, tanto nos animais, como nos humanos.
Nos cães, a disputa pelo afeto lhes asseguraria o alimento fornecido pelo seu dono. Nos humanos, a conotação é semelhante, mas, em minha opinião se difere no homem e na mulher. Na mulher, se explicaria porque a “fêmea” tem necessidade de garantir a alimentação para si e para sua prole. Evidentemente, a concorrência de outras fêmeas (outras mulheres) poderia diminuir-lhe o aporte alimentar. Isto se explicaria pelo instinto primitivo de sobrevivência, embora possa ser modificado pela razão. No homem (“macho”), contrariamente, luta pela manutenção exclusiva de seus gens, não desejando assim que outro macho fecunde sua fêmea, dispersando assim sua genética. Observa-se que, na natureza, os leões matam os filhotes de outros machos, provavelmente para preservar a sua genética.
Assim, deduzimos que o ciúme, antes de ter razões lógicas, é um instinto primitivo e justificado. Claro está que, nos humanos, os graus são diferentes de indivíduo para indivíduo, chegando em alguns casos, até com certa freqüência, a situações patológicas, como a paranóia, às vezes com graves conseqüências, como observado nos crimes passionais praticados tanto por homens como por mulheres.
Creio que a minha teoria tem um embasamento tanto fisiológico (como visto na natureza) como antropológico.

A Carne Ovina e o Coração

Dr.Neil Mann da Universidade de Melboune, do departamento de Food Science publicou um artigo muito interessante da dieta de carne magra e a evolução humana, demonstrando que há evidências científicas que a carne por si só, não é fator de risco para doenças cardio-vasculares, mas sim a ingesta excessiva de gorduras de ácidos graxos saturadas. Seus estudos demonstraram que dieta com carne magra baixou o colesterol plasmático e proveram o aporte de ferro (elemento fundamental na formação de hemoglobina e por conseguinte dos glóbulos vermelhos), zinco e vitamina B12, além naturalmente da proteína de alto valor biológico.
      Estudos da dieta de humanos e precursores de humanos, mostram que por um período de pelo menos 2 milhões de anos, eles consumiram grande quantidade de carne, especialmente de cervídeos, que é rica em ácidos graxos insaturados. Na Austrália foi demonstrado que a carne vermelha tem 5-19% de gordura e a de cordeiro tem 7-17% no máximo, no entanto, no cordeiro pode chegar abaixo de 5%.
            Foi verificado que os vegetarianos tem significativamente aumento da segregação plaquetária e maior número de plaquetas, associado com baixo nível de ácidos graxos insaturados de cadeia longa. Isto quer dizer maior possibilidade de acidentes vasculares tromboembólico,seja cerebral ou coronariano.Geneticamente nosso organismo é o mesmo ao final do Paleolítico, há 20 mil anos atrás. As investigações demonstram que os antigos hominídeos consumiam elevada porção de carne na dieta (800 mil a 1 milhão de anos atrás). O tipo de aparelho digestivo do homem,com estomago médio produtor de ácido clorídrico, intestino delgado longo, tal como nos carnívoros, sugere a alta qualidade da dieta,na qual a carne é o principal componente.
            Dietas consideradas de alta qualidade estão associadas a intestino grosso relativamente pequeno, estômago simples, mas intestino delgado longo, como nos carnívoros. Este patamar também é visto nos primatas.
          O aumento do consumo de carne rica em ácidos graxos insaturados e por seu alto teor protéico seria a responsável pelo aumento do cérebro nos homens, nos últimos 4 milhões de anos.
         Segundo Geoffrey Blainey, professor de Harvard e Melbourne, os homens em torno de 7500 AC iniciaram a criação de ovelhas na região da atual Turquia e Iraque.
As doenças cardiovasculares são a maior causa de morte na população brasileira e mundial. E a angina de peito é a sua manifestação mais freqüente. O infarto agudo do miocárdio tem causado a morte em torno de um milhão de pessoas por ano no Brasil. Entre os fatores de risco coronariano, os mais importantes e significativos são a diabete, a hipertensão arterial, o tabagismo, a história familiar, a obesidade, a obesidade abdominal, o sedentarismo, o “stress” e, em especial, a dislipidemia, isto é, o aumento dos teores sanguíneos do colesterol, dos triglicerídeos e do L.D.L. (sigla em inglês da lipoproteína de baixo peso molecular). É sumamente importante, na revisão periódica que deve ser feita dos níveis dos lipídeos sanguíneos, ter-se em conta os tipos de gorduras e seus valores máximos tolerados a fim de evitar o depósito na íntima das artérias e a conseqüente, formação das “placas de ateroma”, que, quando nas artérias coronarianas (artérias que irrigam o coração), produzem infarto do miocárdio e, com freqüência, o óbito.
Os níveis adequados devem ser os seguintes
    - colesterol total até 200 mg/dl;
                                                   - L.D.L. até 130 mg/dl;
                                                   - triglicerídeos até 150 mg/dl;
                                                   - H.D.L. acima de 40 mg/dl.
Este último é o vulgarmente chamado de colesterol bom, porque tem a propriedade de diminuir a possibilidade de formação de placas de ateroma na íntima das astérias,assim como o exercício físico, o hábito de ingerir moderadamente vinho tinto e dieta baixa em gordura saturada, fazem elevar o H.D.L., que é uma lipoproteína de alto peso molecular responsável pela “limpeza das artérias”.

Tipos de Gorduras
- Gorduras saturadas - presente em carnes gordas, laticínios e coco. Eleva o L.D.L. o colesterol total e também o H.D.L. (colesterol bom);
- Gorduras mono-insaturadas - presentes em azeite de oliva, abacate e amendoim. Reduz o L.D.L. (nocivo) e o colesterol total;
- Gorduras transaturadas (hidrogenadas) - presentes na batata frita, margarina, biscoitos amanteigados, manteiga. Reduz o H.D.L. (bom), eleva o L.D.L. e o colesterol total. É importante salientar que o aquecimento transforma a gordura insaturada em saturada, por essa razão as frituras são prejudiciais;
As gorduras são formadas por diversos tipos de ácidos graxos. Entre as gorduras saturadas, poderíamos citar o ácido butírico, o ácido capróico e o ácido palmítico, ácido estes com cadeias curtas de carbono (até 16 carbonos), aqueles que aumentam importantemente os índices de colesterol. Isto ocorre principalmente por somente apresentarem ligações químicas simples entre os átomos de carbonos.  As gorduras monoinsaturadas e polisaturadas são compostas por uma ou mais ligações duplas entre os carbonos, sendo representadas, entre outros, pelo ácidos olêico e linolêico, com 18 carbonos na cadeia, estes sim, favoráveis ao bom colesterol (H.D.L.) e não ao L.D.L. Estes 2 tipos de ácidos graxos estão presentes na gordura da carne ovina. O ácido ômega 3, também preconizado como protetor coronariano, é importante componente da gordura da carne de pescado.

Colesterol
O colesterol favorece a oxidação do endotélio vascular e da placa ateromatosa, sendo produzido no fígado a partir dos ácidos graxos (gorduras saturadas de cadeia curta com até 16 átomos de carbono) e do próprio colesterol dos alimentos. Os ácidos graxos com 18 (C-18) ou mais átomos de carbono não são colesterogênicos, entre os quais, referimos novamente, os ácidos olêico e linolêico. Justamente estes estão presentes na gordura da carne ovina de forma significativa. Quanto mais insaturados forem os ácidos graxos, menor a formação de colesterol. Sugere-se que para evitar a formação da placa ateromatosa, deva-se ingerir, no máximo, 20 gramas de gordura saturadas por dia, estas sim, responsáveis pela formação de placas de ateroma nas artérias.
Por outro lado, o colesterol é necessário para a construção das membranas celulares (fosfolipídeos) e para o transporte de vitaminas liposolúveis, como a D e a E, responsáveis pela fixação do cálcio nos ossos (D) e pela fertilidade (E). Também o colesterol é o responsável pela produção de hormônios, além da formação da bile, com importante papel na função digestiva. O colesterol somente existe em produtos animais. Outros tipos de gordura são transformados em colesterol no fígado. O excesso de consumo de colesterol e gorduras saturadas está ligado, pois, à ateroesclerose e à formação de cálculos biliares. A ingesta diária de colesterol deve ser de até 200 mg.

Carne, Indústria da Soja e “Fast-food”
A carne , em especial a vermelha,  tem sido objeto de propaganda negativa, sendo associada especialmente às doenças cardíacas, pela formação de ateroesclerose, às doenças neoplásicas (câncer) e às intoxicações. Não é referido, entretanto, que a carne é uma importante fonte de energia (de até 30 % do total), proteínas e aminoácidos essenciais. È também fonte de ferro, elemento essencial na formação de glóbulos vermelhos, fósforo e vitaminas. A indústria da soja, por exemplo, faz grande propaganda de seus óleos, omitindo que os seus produtos, uma vez aquecidos (frituras) se transformam em gordura saturada (hidrogenada). Hoje, se acredita que um importante fator da hipercolesterolemia nos E.U.A. são também os “fast-food” e as “grosseries” (pastelaria, doces gordurosos, batatas fritas, biscoitos amanteigados, margarinas, salgadinhos e outros produtos de padaria). Estudos demonstram que estes produtos reduzem o H.D.L. (colesterol bom) e elevam o L.D.L. e o colesterol total. É importante dizer-se que deve ser ingerido para uma boa alimentação, 200 g de proteína de carne vermelha por dia, equivalente a dois grelhados.

Colesterol nos Alimentos
O ovo tem 200 mg de colesterol, mas pouca gordura saturada, o que é favorável em termos de formação da placa ateromatosa. A carne ovina, a cada 100 g, tem até 100 mg de colesterol A carne de peito de frango, a cada 100 g, tem 60 mg de colesterol. O grande problema desta carne é a gordura acumulada subcutânea (embaixo da pele). A carne de peixe, a cada 100 g, tem 80 mg de colesterol. Portanto, o maior problema das carnes são as quantidades ingeridas, uma vez que é tolerada e , até necessária, a ingesta de até 20 g de gordura saturada e 200 mg de colesterol.

Gordura Saturada nos Alimentos
Em cada 100 g de carne bovina de nelore, existem 3 g de gordura saturada, enquanto na  carne bovina de raça européia, 8 g. A mesma quantidade de carne ovina tem de 4 a 6 g  de gordura saturada. A manteiga tem 50 g de gordura saturada a cada100 g do produto. Quanto a diferenças entre bovinos e ovinos, a carne dos bovinos zebuínos tem um pouco menos gordura saturada e colesterol que os ovinos. Entretanto, estes tem maior teor de gorduras insaturadas C-18 (ácidos graxos com 18 átomos de carbono), representadas pelos ácidos olêico (monoinsaturado) e linolêico (poliinsaturado). Os ácidos graxos C-18 também estão associados ao melhor sabor e aroma da carne. Por esta razão, a carne do corriedade é mais saborosa em virtude da composição de sua gordura ser mais rica nestes ácidos graxos. Tanto os caprinos quanto os ovinos mais velhos tem na sua composição mais ácido capróico, que é um ácido graxo saturado de cadeia curta, portanto favorecendo a formação da placa ateromatosa e fator determinante da conhecida “ catinga”, mau odor característico da carne ovina e caprina.

Fatores Determinantes da Composição da Gordura na Carne
A criação a pasto favorece a formação de ácidos graxos insaturados, que não são nocivos. A idade também influencia, sendo que, quanto maior a idade do animal, maior a quantidade de gorduras saturadas e colesterol, embora aumente a formação de ácido olêico e linolêico, que são favoráveis. O sexo, também tem influência, pois fêmeas tem maior percentual de ácido olêico em sua gordura (favorável). Por outro lado o corte também tem importância, uma vez que o quarto (pernil) tem menos  colesterol e maior teor de gorduras insaturadas (favoráveis).

Diferenças entre as raças ovinas
As raças tipo carne tem menor marmoreio (gordura entremeada entre a carne) e menor teor de gorduras saturadas e colesterol. Entretanto, raças mistas (carne e lã), como o corriedade, com maior marmoreio, apresentam mais gordura, mas também maior teor de acido olêico e linolêico, oferecendo, portanto, maior proteção quanto à formação de placas de ateroma, podendo evita-las, observando-se as quantidades ingeridas.

“Paradoxo Gaúcho”
Apesar do maior consumo de carne, não há maior incidência no RS de doenças cardiovasculares, em relação aos demais estados. Igualmente no Uruguai, onde a ingesta de carne é superior ao RS e tem incidência de cardiopatias isquêmicas semelhantes à Europa e inferior aos Estados Unidos. É interessante citar o famoso “paradoxo francês” como motivador da hipótese do “paradoxo gaúcho”. Na França, apesar da alta ingesta de gorduras, especialmente queijos, existe uma baixa incidência de doenças cardiovasculares, provavelmente pelo alto consumo de vinho tinto, que faz aumentar o H.D.L. e também rico em resveratrol, substância antioxidante que evita a formação da placa ateromatosa,  e ainda pela ingesta de azeite de oliva, que igualmente aumenta o H.D.L.

Homem do Campo
            A nossa experiência médica de mais de 30 anos, inicialmente na Residência de cardiologia da Faculdade de Medicina da UFRGS (serviço do Prof. Rubens Maciel e, posteriormente, como professor de cardiologia da Faculdade Católica de Medicina e preceptor do Instituto de Cardiologia-RS, não vimos pacientes oriundos da Região da Campanha do Rio Grande do Sul habitantes do meio rural (peões de estância), pessoas caracterizadas pela alta ingesta de carne ovina, que é habitual na região, com infarto do miocárdio ou doenças cardiovasculares. É bem verdade que existem outros fatores protetores, como atividade física, que aumenta o H.D.L., a erva-mate, rica em flavanóides e polifenóis, com efeito antioxidante e, até mesmo o regular consumo de bebidas alcoólicas, também favorável ao aumento do H.D.L. Por outro lado, existem também fatores de risco como o excessivo consumo de sal, especialmente no charque, com conseqüente aumento da pressão arterial, a elevada ingesta  de carboidratos, predispondo o aparecimento de diabete, e a alta prevalência de tabagismo. Aqui mais uma evidência fica, do baixo risco que representa a gordura ovina, trazendo a chamada “hipótese da carne ovina”, alvo potencial de futuras pesquisas em nosso meio, buscando provas mais objetivas do benefício deste alimento ao homem.

Conclusão
O objetivo desta revisão foi desmistificar o excesso de malefícios atribuídos a carne bovina e ovina. Possivelmente, pode haver um efeito protetor da carne ovina, especialmente nas raças de duplo propósito, pela maior quantidade de gorduras formadoras de H.D.L. (colesterol bom).

Finalizando, diríamos que o Rio Grande se fez a cavalo e o gaúcho foi feito com ovelha!